domingo, 20 de julho de 2014

DOS ESCANINHOS DA FELICIDADE




- Quem é feliz aí levante a mão!!!!!

Silencio absoluto no recinto. O voo de uma mosca teria produzido o mesmo nível de decibéis que a passagem de um Boeing, àquela hora, por dentro daquele lugar.

Não é conveniente se perguntar em público sobre felicidade alheia. E durante o almoço muito menos. Compromete a digestão e faz um elevador ficar subindo e descendo entre o estômago e a garganta do inquirido.

Até hoje ele não sabe o que o levou a se levantar subitamente - derrubando mesa, pratos e talheres - e gritar a plenos pulmões no restaurante. Foi algo como o reflexo natural de se aplicar um tapa quando se é picado por um mosquito.

O garçon acudiu pra recolher a bagunça. E enquanto, abaixado no chão, depositava o caos na bandeja, olhou pra cima e sussurrou quase que de forma inaudível.

- Psiu, moço... Moço!

- Diga.

Até ele estava surpreso com o que acabara de acontecer, quem sabe o rapaz não tivesse uma explicação.

Com o dedo selando os lábios o garçon  lhe suplicava a discrição que o alto tom de sua voz não sugeria.

- Moço, eu sou feliz sim; e muito! Mas não diga nada senão esse povo me mata.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

FÁBULA ÀS AVESSAS



O escorpião, que não sabia nadar, pediu carona à Inveja para atravessar o rio nas suas costas.

- Pois não Sr. Escorpião, será um prazer – disse D. Inveja, toda prosa.

Partiram da margem.

Lá pras tantas, durante a travessia, grita o peçonhento, enquanto agoniza em direção à morte:

- Aiiii!!!! .Por que a senhora fez isso?!

- Desculpe, mas é de minha natureza meu filho. Além disso, você tem um rabo lindo; e azar o seu se eu nasci sem bunda.

E sem que o dia nem ao menos parasse para olhar, se afastou cantando: “fuscão preto, você é feito de aço...

TRANSMUTAÇÃO SOTEROPOLITANA



No mormaço da laje,
eu quis ser um poema.

Mas
(na prática)
- como um bom baiano –
o máximo que consegui

foi deixar de ser coco
para ser ventilador.