- Zé Trindade, tô apaixonado.
- De novo?!!! Eu quero é novidade.
- Mas dessa vez é sério, pô!
- Todas foram. Mas conta aí: quem é a vítima agora?
- Sua mãe – respondi, já começando a perder o rebolado.
- Minha mãe não. Ela tem juízo, não permitiria nunca um
louco feito você chegar nem há mil quilômetros de distância dela. Mas deixe de
história e desembucha: quem é?
- Você não conhece.
- É óbvio que não conheço sua anta e se você não falar aí é
que eu não vou conhecer nunca.
- É uma cantora de Salvador: Zizi Possi.
- Zizi Tosse?!!!!!!!
- Não, seu animal, Possi. Zizi Possi, irmã de José Possi
Neto, aquele diretor de teatro.
- Dele sim, mas dela nunca ouvi falar.
- É de São Paulo, canta pra caralho e está morando na Bahia.
Vi um show dela no Gamboa, depois outro no Teatro do Sesi e agora acabei de
assisti-la em Quincas Berro D´Água no TCA. Tô pirado. Não como, não bebo, não
durmo, só respiro Zizi.
- Fodeu! Salvador nunca mais será a mesma, o maluco deu pro
lado de lá. Mas sim – continuou Zé, com aquela sua eterna cara de espanto - mas o que é que eu tenho com isso? Já ando
traumatizado com esse negócio de paixão, vindo de sua parte. A última vez em
que você se apaixonou nós tivemos de passar a noite parando todos os bailes de Juazeiro
para beber de graça. Nem vem.
- Mas o que você queria que eu fizesse se o fiscal da Ordem
dos Músicos era você? O poder de polícia estava em suas mãos meu nego. A gente
sem um conto, eu com uma dor de cotovelo da moléstia; você com aquela carteira
linda – com o brasão da República e tudo, sem querer usar por pudores éticos.
Foi só juntar dois com setecentos. E não venha destilar moral não porque você
também encheu a cara - talvez até mais do que eu.
- Deixa isso pra lá. Vou repetir a pergunta: o que é que eu
tenho com isso meu compadre?
- Vou fazer um musical. Vou trazer ela pra cantar em Feira.
Preciso de você.
- Puta que pariu! Eu sabia que ia sobrar pra mim, sempre
sobra.
- Mas compadre, não adianta eu fazer teatro, poder
arregimentar gente nesse meio se não tiver alguém de peso na música, com quem
contar. Não quero fazer um recital, entendeu jumento? Preciso de um musical porra!!!!
- Não sei não... Tô fora.
- Fora um caralho, compadre é compadre. Vai me deixar na mão agora é?
- Mas eu lhe dei foi o meu filho pra batizar e não a minha
vida.
- E de que vida, afora a da comadre, saiu seu filho?
- Da minha – respondeu Zé, não sem muita relutância, já que acabara de se dar conta do xeque-mate.
- ?
- Tá seu porra, eu faço?
- Sem grana?????? Não tenho um puto. – e um silêncio mortal pairou no recinto,
enquanto Zé Trindade me cravava o punhal do seu olhar mais negro que azeviche.
- Vá se foder!!!!!!! Faço sim, senão você não larga do meu pé. Melhor trabalhar de graça do que lhe aturar.
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