segunda-feira, 31 de março de 2014
O PILOTO DE HELICÓPTERO OU COMO O MUNDO É PEQUENO (Primeira Parte)
Saí outro dia com Neto Balla (sambista baiano) e Iraquitã Sá, artista plástico cuja história se confunde com os últimos 60 anos do Pelourinho. Ali nasceu; ali sentou paleta, pincéis e cavaletes; e ali fez a sua reputação inabalável de príncipe das mulheres. Reza a lenda que, até mesmo, célebre estrela de Hollyood não foi poupada. Mas, sobre Iraquitã, é mais certo dizer que conhece todo mundo na Bahia - sem exceção, nem das exceções.
Conversa vai, cerveja vem, não lembro como, o papo chegou em Zizi Possi. Ah! Lembro sim. Falávamos das dificuldades de se produzir um show no início de carreira e Iraquitã, corroborando o assunto, começou a contar como foi duro fazer a produção de um show que José Possi Neto - que na época tinha alugado uma casa na Boca do Rio para o seu quartel general - produziu de sua irmã, no Teatro do Sesc.
- Rapaz - prosseguia Iraquitã, lembro que um cara chegou com o piano em cima de um caminhão, faltando só duas horas pro show e mandou essa: "ou paga o frete ou o piano não sai daí."
- E como resolveram, perguntei.
- Foi um sufoco, ninguém tinha um puto. Mas, puxa daqui, estica de lá, conseguimos fazer uma vaquinha e pagar ao sujeito.
- Eu vi esse show.
- Sério? Tem certeza?
- Claro. Ela não cantou "A Maçã" de Rual seixas e Paulo Coelho? Na banda não tinha um sanfoneiro?
- Que coisa, você estava lá, viu mesmo!
- Claro que vi, tenho olhos. E não só vi como, por causa desse show, vivi uma história interessantíssima com ela.
- Agora você vai contar.
- Conto sim, mas precisamos voltar um pouco no tempo para que você entenda.
- Conta logo Carôso! Lá vem você com sua mania de esticar a história.
Como Iraquitã nunca entendeu o meu poder de síntese, ignorei a ironia e comecei a despejar minhas lembranças.
Eu tinha dezoito anos. Trabalhava num escritório de contabilidade em Feira de Santana e ganhava relativamente bem pra minha idade. Com isso, ainda que não tivesse carro, era muito comum vir à Salvador para assistir a lançamentos de cinema, peças que me interessavam e a todos os shows históricos que pude ver. Não media esforços, nem grana.
Certa feita, não sei como, fui parar no Teatro Gamboa assistindo a um show de Zizi - de quem nunca tinha ouvido falar - se não me engano, o seu primeiro. E lá havia um momento em que ela entrava em cena, com um maiô negro (cavadérrimo!!!!) e chapéu coco.
Aquilo era mais do que os meus hormônios, em tempestade crônica, podiam aguentar e é claro que enlouqueci a partir daquele show de bolso. Não conto as noites em que acordava suando frio, lembrando daquelas virilhas maravilhosas, recém depiladas para entrar em cena. E creio ser dispensável dizer que emagreci uns três quilos nos meses que se seguiram.
Voltei pra Feira confundindo obsessão com amor e não foi fácil separar o joio do trigo. Dormia e acordava Zizi - até que fui salvo por Luizângela (aí sim, um lindo amor platônico), mas isso já é outra história que um dia talvez eu conte.
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